domingo, 29 de junho de 2008

A TRADIÇÃO CULTURAL ANTI-MAÇÔNICA

As tradições se formam ao correr dos séculos e se integram tão profundamente ao complexo dos usos, costumes e crenças dos povos que nem leis, nem campanhas e nem quaisquer outras ações as podem erradicar ou mesmo abrandá-las de um momento para outro. Elas até podem desaparecer, ou apenas se modificar e abrandar, mas sempre no mesmo ritmo em que se formaram, lenta e progressivamente.
Por isso não se espere que a tradição cultural anti-maçônica, tão arraigada no mundo ocidental cristão, venha a se modificar radicalmente ainda em nosso tempo. Os mentores religiosos não estão nem de leve interessados em que isso aconteça, por um motivo muito simples: os papas do Catolicismo há mais de dois séculos e meio condenam oficialmente a Maçonaria como inimiga da Igreja, ou das igrejas cristãs. A tão propalada modificação do Código do Direito Canônico na verdade não modificou nada, pois a Igreja continua a excomungar os maçons. É só ler os Estudos da CNBB - 66.
Sendo a Maçonaria exatamente a mesma dos tempos do Papa Clemente XII, modificar agora a opinião equivocada oficial a seu respeito seria o mesmo que admitir que os papas que no passado sempre a condenaram estavam errados, uma hipótese inadmissível para uma autoridade suprema que se considera infalível.
Conviver pacificamente com a Maçonaria seria para as igrejas cristãs excepcionalmente fácil. Bastaria simplesmente que suprimissem oficialmente de suas instruções aos fiéis as restrições e as condenações, como por exemplo, as contidas no opúsculo antes citado, cujas declarações ainda estão em vigor, e onde está escrito claramente que os maçons ainda continuam a ser excomungados.
O que na verdade as igrejas cristãs pretendem é que a Maçonaria deixe de ser o que é e se adapte aos desejos das autoridades eclesiásticas, de acordo com pensamentos medievalistas que ainda vigoram, infelizmente. O que principalmente incomoda essas autoridades é o sigilo, que gostariam ver extinto, pois ele impede a intromissão em nossas lojas. O opúsculo Estudos da CNDD-66 é bastante claro a esse respeito ao propor o diálogo entre a Maçonaria e a Igreja: "Mas um diálogo onde todos se apresentem abertamente, sem esconder ou disfarçar nada, nem do seu ser nem dos seus objetivos". Quem estaria escondendo o quê, se as iniciativas de diálogo sempre partem da própria Igreja?
Vale acrescentar que as religiões cristãs não católicas que se formaram a partir de dissidências da Igreja Católica, e cujos primeiros pastores e ministros certamente já haviam absorvido a danosa cultura anti-maçônica, com raras exceções, seguem a mesma atitude da Igreja da qual se originaram.
Assim, qualquer movimento para erradicar das comunidades das igrejas cristãs a cultura anti-maçônica somente poderia ser encetada a partir de superiores hierárquicos do Catolicismo e de pastores ou dos ministros das demais religiões. É sobejamente sabido que o contexto popular de um modo geral não responde a argumentos e pregações lógicos, mas apenas a apelos e pregações sentimentais de seus dirigentes religiosos.
Entre os maçons, mesmo entre os que são cristãos, essas condenações não surtem o efeito esperado porque os iniciados cedo percebem, através do convívio com os irmãos em suas lojas, que não há nelas nada contra religião alguma. Assim as sanções e as excomunhões caem no vazio e no ridículo. Isso é comprovado pelo fato de uma alta percentagem dos cinco milhões de maçons espalhados por toda a Terra serem membros ativos de igrejas cristãs que condenam a Maçonaria.
Como teria começado essa cultura anti-maçônica e porque estaria ainda muito presente entre o povo cristão neste terceiro milênio?
O primeiro grande passo foi dado pelo Papa Clemente XII no ano de 1738, com sua constituição apostólica In Eminenti Apostolatus Specula. Os motivos alegados no documento estão na verdade simplesmente ligados a uma questão de poder civil, pois não devemos nos esquecer que o papa era, e ainda se considera assim, o rei dos Estados Pontifícios. Eles ocupavam, durante todo o século XVIII, a parte central da Itália atual. Portanto era civilmente um potentado absolutista, que defendia seu poder com exércitos e manobras políticas e militares que nada tinham a ver com a defesa da fé. Agia tal qual o faziam todos os outros potentados. A Maçonaria foi olhada por aquele papa simplesmente como um possível inimigo do seu poder e não como inimigo da fé.
Ele condenou a Maçonaria porque outros soberanos já o haviam feito, porque as suas reuniões secretas poderiam pôr em perigo o Estado, já que se subtraiam ao poder de vigilância policial; exigiam juramentos, o que Igreja considera exclusividade sua; porque o segredo poderia afastar fiéis do controle pessoal da Igreja e desviá-los da sua "santa obediência"; e porque "todas essas suspeitas tornavam os Maçons suspeitos de heresia". A todo este fictício rol de suspeições está acrescentada esta coisa muito estranha "...e por outras causas justas e razoáveis por nós conhecidas", como se estivesse sendo escrito "e qualquer outra causa que julgarmos conveniente".
Um édito do Cardeal Firrao, de janeiro de 1739, confirmou a condenação esclarecendo que todos os que tivessem relacionamento com as lojas maçônicas e com os maçons pessoalmente seriam excomungados e condenados a morte com o confisco de seus bens. Era a voz de uma Inquisição felizmente já enfraquecida.
A condenação papal seguinte foi a constituição apostólica Providas, do Papa Bento XV, de maio de 1751, que reproduziu quase integralmente a de Clemente XII. Estas condenações papais foram seguidas de muitas outras, todas reproduzindo as mesmas condenações baseadas nas mesmas suspeitas de Clemente XII. A presença do espírito da Inquisição está claramente delineada nas atitudes da Igreja contra a Maçonaria. Mas felizmente o seu poder já declinara e não permitia mais executar hereges ou suspeitas de heresia.
As notícias dessas condenações papais se espalharam rapidamente por todo o mundo ocidental cristão, e os eclesiásticos do primeiro degrau da escala hierárquica, os vigários e os curas, celeremente trataram de difamar os maçons e a Maçonaria perante os fiéis de suas paróquias, dizendo-os mancomunados com o diabo para destruir a Igreja e o Papado.
A mente popular assim insuflada deu asas à sua fantasia e estabeleceu-se essa cultura anti-maçônica tão conhecida de todos. Muitos, ainda hoje, acreditam piamente que os maçons ao serem iniciados entregam sua alma ao diabo assinando com seu próprio sangue um terno de compromisso e outras tolices mais dessa espécie. São coisas tão ignorantes e tolas que comprometem por demais o conceito de seriedade das autoridades da Igreja ao não se empenharem decididamente em combatê-las.
Apesar das afirmações em contrário dos representantes da Igreja, ainda hoje os maçons continuam sob excomunhão, um resquício medieval que ninguém mais leva a sério, que nenhum efeito mais produz e que de há muito deveria estar abolido se as intenções de boa convivência fossem realmente sérias.
Além das igrejas cristãs também nos países do mundo ocidental onde imperou o Comunismo foi a Maçonaria sempre tradicionalmente considerada inimigo público e drasticamente abafada ou eliminada com o confisco de seus bens e a desapropriação de suas sedes, com a prisão de seus membros e a eliminação ou banimento de seus dirigentes. Os motivos alegados pelos governantes são em tudo semelhantes aos alegados na bula In Eminenti...de Clemente XII.
Parece haver consenso geral entre os ditadores de que aqueles que se reúnem discreta ou secretamente devem estar presumivelmente conspirando contra as autoridades, uma razão muito forte em regimes ditatoriais. Houve entre esses países uma exceção honrosa, Cuba, por motivos pessoais de seu mandante supremo, Fidel Castro.
O Comunismo e as religiões cristãs têm sido secundados pelos regimes totalitários, como o Nazismo e o Fascismo, e as ditaduras pró-católicas como as do Chile, de Portugal e da Espanha. Isso não ocorre nos meios religiosos não teístas orientais, como no Hinduismo, Budismo e outros, nem no Islamismo ou no Judaísmo, porque neles não se estabeleceu uma cultura anti-maçônica.
Como o comunismo e os regimes ditatoriais praticamente deixaram de existir no mundo ocidental, e os governos democráticos de um modo geral ignoram a existência da Maçonaria, os problemas do relacionamento Maçonaria/Sociedade estão atualmente restritos ao mundo do Cristianismo. Dessa forma, os fatos de aversão à Maçonaria estão bem regionalizados e delimitados ao Ocidente histórico, ou seja à Civilização Ocidental Cristã.
Todas essas condenações à Maçonaria foram deflagradas a partir da entrada da Maçonaria no continente europeu no segundo quartel do século XVIII (1725-1750). Quando ainda restrita à Inglaterra, que se subtraíra a influência de Roma, ela floresceu com liberdade porque nesse país a Inquisição não mais podia agir. Na Europa continental esse profundo e forte sentimento de desconfiança e de oposição à Maçonaria se fixou especialmente entre as pessoas menos cultas, isto é, aquelas que aceitam com facilidade e sem prévia análise racional crenças, crendices e histórias fabulosas.
Estas pessoas menos cultas não estão apenas entre os analfabetos. Podem ser encontradas em todas as camadas sociais e em todos os níveis de instrução, desde os alunos das escolas secundárias até os níveis universitários mais avançados. Ser culto é saber usar a razão, e nem todos os homens instruídos, mesmo os de alto nível, sabem desenvolver a sua racionalidade com respeito aos elementos de sua tradição cultural.
Para melhor compreender o sentido da expressão tradição cultural a que nos referimos com certa freqüência, esclarecemos que assim se compreende o conjunto dos conhecimentos, usos, costumes, lendas e crenças que se transmitem e se ampliam de geração em geração, tanto sustentados pelos grupos ou clãs familiares como por associações civis e para-religiosas, mas principalmente pelos apelos de mandatários religiosos.
Fonte: Grande Loja Maçônica do Estado do Mato Grosso.

2 comentários:

  1. O maior bem que um homem pode ter, de fato é a sabedoria, prova disso foi a herança que DEUS deu a Salomão.
    Fico profundamente agradecido pela vida do irmão James Couto,pela liberdade do aprendizado em seu blog.

    Fraternalmente

    Josias - em busca do DELTA do ORIENTE. .'.

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  2. otima matéria

    parabéns

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